A medicina e, em especial, a ortopedia sempre andaram de mãos dadas com os avanços da tecnologia. A combinação de inteligência artificial e impressão 3D tem permitido a criação de próteses sob medida, proporcionando maior conforto, precisão e eficácia no tratamento de diversas condições.
A evolução das Próteses e o retorno à qualidade de vida
Tidas como uma das cirurgias mais revolucionárias do século XX, as artroplastias (próteses) de joelho, quadril, ombro, tornozelo e de outras articulações devolveram qualidade de vida a um sem-número de pessoas em todo mundo.
Falando mais especificamente das próteses de joelho, área que atuo, desde os primeiros modelos, os avanços tecnológicos de cada época (desde os anos 1960, quando surgiram os primeiros modelos com as características que levariam aos modelos atuais), eram captados e incorporados nos modelos seguintes visando a maior durabilidade dos implantes e maior funcionalidade ao paciente.
O desenho das próteses, as ligas metálicas e polietilenos (materiais plásticos), matéria prima das próteses e os métodos de fixação ao osso foram, durante anos, os parâmetros mais estudados para melhoria na qualidade dos implantes.
Continuam sendo muito estudados, mas atualmente, no mundo das próteses, a questão mais discutida e estudada é a precisão com que a cirurgia deve ser feita. Os cortes ósseos, precisos, levam ao perfeito posicionamento dos componentes da prótese. Por sua vez, o posicionamento perfeito leva ao alinhamento desejável do membro inferior que, por sua vez, é tido como parâmetro fundamental para uma ótima função do novo joelho e longa duração da prótese, preferivelmente, para a vida toda!
O papel da tecnologia na customização de tratamento com as próteses
Tecnologicamente, divido as próteses atuais em 4 grupos principais, todos eles com amplo sucesso no tratamento das artroses avançadas do joelho contanto que produzidas por empresas sérias e respeitadas:
- O primeiro grupo é o das próteses convencionais de implantação mecânica.
Neste grupo, os cortes ósseos são produzidos através de guias mecânicos posicionados com auxílio de outros guias pré-desenhados pela empresa fabricante e por meio de marcos anatômicos que o cirurgião deve reconhecer em cada joelho. São, de longe, as mais realizadas em nosso meio atualmente.
- O segundo grupo é o das próteses navegadas por computador.
Próteses navegadas são realizadas no Brasil há mais de 15 anos. Esta tecnologia permite ao cirurgião o mapeamento da anatomia do paciente que é enviada ao navegador (computador) por sensores. Cálculos realizados pelo computador permitem ao cirurgião decidir sobre ângulos e espessura dos cortes ósseos que levam, com maior precisão, ao alinhamento desejado para o paciente.
- O terceiro grupo, há cerca de 3 anos no Brasil, é o das próteses implantadascom tecnologia robótica.
Neste grupo, além da navegação por computador de última geração que permite que as decisões sobre alinhamento, tamanho dos implantes e estabilidade sejam tomadas antes de qualquer corte ósseo, o braço robótico executa os cortes conferindo um grau de precisão estupendo e garantindo que o planejamento realizado seja cumprido à risca.
- O último grupo é o das próteses customizadas, ou seja, feitas sob medida para cada paciente.
A prótese é produzida após um exame de tomografia determinar as características anatômicas do paciente e a inteligência artificial determinar como era aquele joelho antes da artrose. A prótese é então produzida visando devolver aquele joelho antes da doença. O grau de precisão nos cortes continua muito alto, pois os guias são confeccionados, um a um, para aquele joelho em particular. A tecnologia permite a sensação de um joelho mais natural e super estável ao paciente.
Nos primeiros 3 grupos, o joelho é preparado para uma prótese já pré-fabricada, com desenho único, que não varia de acordo com o paciente e com vários tamanhos onde aquele que melhor se encaixa para o paciente é o utilizado. Já no grupo das próteses customizadas, a prótese é preparada para o paciente e não o inverso.
É justificado que, com o aumento da carga tecnológica envolvida, os valores da cirurgia também variem. Isso acontece na mesma ordem que os grupos apresentados, ou seja, as próteses convencionais são mais baratas que as navegadas, que são mais baratas que as robóticas, que são mais baratas que as customizadas.
Conclusão
Apesar da incorporação das tecnologias, ainda não há evidências suficientes que mostrem uma durabilidade maior das próteses mais tecnológicas sobre as convencionais. Isso se dá, em grande parte, pelo fato de que as próteses mais tecnológicas não têm “tempo de estrada” ainda para mostrar a superioridade em relação às convencionais, uma vez que chegaram ao mercado há pouco. Por outro lado, essas tecnologias nos permitem atingir com precisão os objetivos que buscamos quando fazemos a cirurgia. É de se esperar, portanto, que com os objetivos atingidos com precisão, as próteses tenham uma longa sobrevida proporcionando uma função cada vez mais próxima ao normal ao paciente.
